Yoga Levallois

Aqui o site da associaçao de yoga da qual faço parte como professor.

O site :
http://www.kayoga.ca


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Here the kayoga website, the yoga association in which I give classes of yin yoga.

We provide Yoga in the city of Levallois Perret in France. The studio is located at 4 Rue Maurice Ravel and has many classes of Yoga during the week, including 12:00pm classes for the working people of Levallois.

The Levallois yoga website :
http://www.kayoga.ca

The summer schedule :
http://www.kayoga.ca/index.php/yoga-levallois/

Segunda Chance

Musica gravada como trilha sonora do curta metragem
"Second Chance" de Bruno Accioly



Candeias, Mestres e Capoeira

Mestre Suino é o lider e criador do Grupo Candeias.

Sao muitos anos dedicados a compor, como um maestro, um dos maiores grupos do Brasil (mais de 5000 alunos) espalhados por varios paises.

Aqui relato um pequeno episodio do meu primeiro encontro com o Mestre.

Fui visitar seu grupo em Goiania e mesmo sem estar com a roupa adequada, me apresentei para jogar movido pela força e energia da roda

Na entrada da roda, ao chegar perto do berimbau para pedir minha bençao, o proprio mestre se apresentou pra jogar comigo.

Que honra.

Meu primeiro movimento foi digno do que veio a acontecer...

Na primeira meia lua esparramei um monte de moedas pela roda.

Que vergonha!

Acredito, lembrando do fato, que fiquei nervoso antes de entrar na calorosa roda de capoeira e me esqueci completamente das moedas no bolso.

O Mestre sorriu. Tranquilamente jogou alguns golpes simples e esperou que as moedas fossem retiradas pelos capoeristas ao redor.

Quando o terreno ficou limpo o mestre com dois movimentos rapidos me levou ao chao em uma banda memoravel.

Foi a primeira liçao.

Convivi com o mestre pelos anos seguintes, recebendo as aulas e seus ensinamentos.

Em 1994 fui batizado pelo Mestre Xereu e ganhei como presente do mestre Suino o nome de Mandingueiro. Obrigado Candeias !

Video com uma pequena aula do mestre Suino na Irlanda



Cara na rua




sao paulo, rua bela cintra, esquina com a paulista, sentido bairro.

(grafiti by Bruno Accioly)

Termometro Social





- Quantos poetas voce conhece ?

- 8!

- Ta' bem heim ? assim nao da' pra reclamar da vida...




o que importa?
se o ovo não vingar
vingará a torta

Jaime Brasil

bsb
tempo seco.
falta humildade.

Marcos Caiado



Audiência no Brasil

Clique aqui para ver quem esta escutando nossa musica na primeira semana de abril

Musicas

Aqui estao algumas composicoes ainda nao divulgadas.

Ao todo, estamos com mais de 2 horas de musica, improvisos e gravaçoes caseiras que em breve estarao disponiveis pelo nosso website www.duoba.com


Por agora, esperamos que essa pequena amostra alegre seu momento.


O talentoso Kailin Yong, violinista de Singapura, dedicou a musica de sua autoria 'Aqui, ai, ali' para o Duoba. Kailin e Jose fazem a abertura dessa serie.

O Kailin vai aparecer de novo ao final dessa seleçao com a musica 'Helen', tambem de sua autoria e um tema imperdivel para os amantes do bom violino. Recomendo o site do artista : Site Oficial Kailin

A musica 'Brazilian Funk' é uma gravaçao do ano de 2001, feita em uma das "jam sessions' no estudio em Denver. Estavamos gravando o CD Soundflower e a musica ficou esquecida em nossos arquivos.

'Africa' é uma composiçao do percussionista James Slater, que esteve no Brasil em 2004, passando por Goiania e Pirenopolis.

'Sonno Romana' tem a força de Giovanna Scarino, hoje com 84 anos de idade. Para quem conhece, Giovanna é a Nonna, minha avo'.

'Domingo' foi feita em homenagem ao nascimento de Gabriella Bezerra de Mello. A musica trata das coisas simples do estado de Goias e da alegria de receber Gabriella. Nao importa o dia que ela venha, sera' sempre um domingo, dia de alegria.

'Poesia - Roses and Chocolate' foi citada por Maryanne Hart, de improviso, em uma das tardes em Golden, Colorado.

Boa musica a todos.

Tv por assinatura

Passou a tarde vendo televisao.

No auge dos seus 11 anos os canais em ingles e os desenhos pareciam chatos.

Escolheu o canal de filmes nacionais.

Ao final da tarde a mae gritou que ja' era hora de se arrumar.
Era dia de festa e os convidados estavam por chegar.

-Voce esta' linda, disse a tia.

Mariana sorriu com movimentos duros. A roupa e o cabelo poderiam se desarrumar.

Logo mais foi o tio que chamando atencao de todos perguntou:
-Mariana, voce ja' sabe o que vai ser quando crescer?

Ela balancou a cabeca em sinal positivo.

A festa parou, curiosa pra ouvir.

A mae estufou o peito.
Minha menina.

Mariana, com os olhos brilhando, respondeu:

-Tio Jorge, quando crescer eu vou ser -

Cangaceira!

Dois pra voce Um pra mim

O samba saiu de uma vez so'.
Uma primura (*).

Fiz uma gravacao caseira, bem rudimentar.
Ta' cheia de ruido. Parece coisa antiga.
Coisa do tempo do Ismael. Silva sempre.

O Samba brinca com o fato da gente achar
que o outro sai sempre ganhando.
Mas tem revanche.
De virada.

Se ouvir de novo o sorriso abre.
E cuidado com a 3 vez,
enlua.

(Letra - Clica aqui para ler)
(Audio - Clica aqui para ouvir).


(*) primura e' palavra nascida no matagal da fala e traduz alegria.
O radical vem da felicidade de ter prima bonita como eu tenho).

O meu amor por voce

Lambe a palavra ancora,
simbolo de firmeza,
imobilidade.

O barco esta' ancorado.

Mas o barco,
ancorado se mexe,
flutua.

Parar
O mar
nao e' tarefa facil.


(to Diana)

Namoro

Meu sorriso

enlua


quando pelo ar


vai a bicicleta

sem pedalar



("enlua" e' palavra colhida no matagal da fala)

Hipnose

A frase que estou para lhe dizer causa um bem irreversivel. Voce vai ler e absorver como esponja. Em troca, essa frase lhe dara' sentido nos momentos que sentido for necessario.

E' binaria, reveladora, transformadora.

Vai haver um tempo desde a leitura ate' sua compreensao. Anos podem se passar nesse processo.

Persista. Repita muitas vezes para si mesmo.

Cunhada em momento de criacao, a frase tem formacao de rocha tectonica. O tempo nela se redime.

Aplicada em doses diarias os beneficios serao muitos. Como o perdao.

Nao me estenderei mais.

Aumente o som pois a frase deve ser lida com volume cerebral maximo. Atencao, ela estara' depois do ponto que esta' por acontecer. Ponto. O Equilibrio Descansa. Continue lendo pois ainda nao e' o momento de pensar na logica da frase. Deixa isso pra depois, para quando acabado esse presente.

A corrente sanguinea ja' foi incubada e a mente foi orientada a nunca mais esquecer-la, portanto, seguir em frente vai trazer a sabedoria que a frase contem.

Nesse estado de absorcao lhe preparo para o final. Em poucos instantes voce sera' livre para reiniciar.

Voce e a frase. Um...

Juntos. Dois...

Uma frase eterna nao mereceria menos. Tres...

Descanse.

foto tirada por Bianca Accioly


No calor de Paris

Saudades de Pirenopolis



Jogador de Capoeira

Mestre Acordeon em sua escola em Berkley, California


Para escutar o Mestre Acordeon
(que toca berimbau, canta e faz um depoimento sobre Mestre Bimba)
ao lado dos violoes do Duoba' clique abaixo :


09 - Jogador de Capoeira by Duoba


A capoeira sempre esteve presente nos cds do Duoba. No CD SoundFlower tocamos com o grupo candeias (clique aqui para ouvir outra musica de capoeira: Candeias).

Ja' no CD latitude fazemos uma homenagem ao Mestre Acordeon.

Mestre Acordeon e' nascido na Bahia e um dos mais respeitados mestres da atualidade. Ele e' discipulo do legendario Mestre Bimba (criador da capoeira Regional).

Sua escola de capoeira na California e' referencia internacional, assim como seus varios cds, livros e ensinamentos.

O Duoba' se apaixonou pela musicalidade que nasce expontaneamente do mestre.

Aqui relato um fato curioso acontecido durante as gravacoes ocorridas em Denver - Colorado.

...

Eu e o Jose' afinamos os violoes com um afinador eletronico e depois repassamos "de ouvido" corda a corda, afim de estabelecer a mais pura sintonia possivel.

Com os violoes afinados, entramos no estudio para gravar a musica Jogador de Capoeira, em homenagem ao Mestre.

Finda nossa gravacao, entregamos o bastao ao Mestre Acordeon.

Ele entrou na sala, pegou seu instrumento, perguntou o tom da musica e disse que afinaria o berimbau em La'.

Mestre Acordeon fez alguns toques no berimbau, sempre ajustando a cabaça.

Sua concentracao, olhando para um ceu imaginario, foi gradualmente acertando os harmonicos do instrumento, enquanto movia milimetricamente a cabaça em busca da nota La'.

Ao final disse:
-Estou pronto.

Eu e Jose' nos olhamos em duvida: Vamos la' nos certificar que o berimbau ta' mesmo em La' ?

Seria prudente, afinal, hora de estudio e' cara. Imagina se gravamos, sai bem tocado MAS desafinado por alguns megahertz ?

Fomos. Entramos na sala meio sem jeito. Acordeon sorriu.

Ele soou seu berimbau e o marcador do afinador eletrônico deu um La' perfeito.

Dai' em diante, a confianca, que ja' era grande, virou absoluta.

O mestre dizia: esse berimbau aqui vou colocar em Re' !
Seus olhos vibravam como menino.

Eu e Jose, dentro da cabine de gravacao sorriamos.
Que alegria tocar com ele.

Acordeon, obrigado!


website da escola do Mestre Acordeon: http://www.capoeiraarts.com

O Caminho de Santiago


ruge a pressa
sem paciência
urge a calma

ando pela estrada curva
que bela manhã
esta noite de chuva

nada grave
sempre há o sol na areia
e a sombra da árvore

jaime brasil


ps. fotos caminho de santiago:
http://www.rmello.shutterfly.com
(s e n h a: d u o b a)

Vida de casado


Eles estavam na cama, debaixo das cobertas, quase prontos para dormir.

-Se fosse possivel o que voce trocaria, o corpo ou a mente ?
-Que pergunta mais besta, respondeu ela.

-Pensa ai', me diz, o corpo ou a mente ? Ele insistiu.
-Ah, sei lah. O corpo.

-Assim nao vale, tem que afirmar.
-O corpo, ja' disse.

-Porque o corpo? Ele fez uma cara de espantado.
-Nao te parece obvio?

-Nao pra mim, entao, porque o corpo ?
-Porque meu corpo envelheceu e minha mente ficou mais sabia. Ela estava certa. O tempo havia lhe deixado mais serena e amadurecida.

-E voce ? retrucou ela.
-Eu o que ?

-Nao se faca de tonto, agora eh a vez do senhor, voce trocaria o corpo ou a mente ?
-A mente, ele afirmou veemente.

-Claro que seria a mente, nao esperaria outra coisa de voce.
-Porque ?

-Simples, porque voce dedicou muitos anos a se manter em forma e decidir pelo corpo ao inves da mente seria admitir derrota, o que convenhamos, nao faz o seu estilo.
-Hmmm. Faz sentido. Mas decidi pela mente por outro motivo.

-Qual ?
-Porque nao consigo mais aprender como antigamente. Estou com a mente cansada.

-Cansada ? Hmmmm. Como assim, me da' um exemplo ? Ela sempre pedia exemplos.
-Putz.. tem certeza que trocar o cerebro nao seria melhor pra voce ? Ele ironizou fazendo cara de debil.

Ela simulou um chute debaixo dos lencois, desses de mentirinha, so' pra faze-lo rir.

-Eu quero um exemplo ! ela insistiu.
-Ta' bom. Olha, era uma vez um menininho muito inteligente que vivia ...

-Para de me sacanear, criancinha eh a sua vo'!
-Mas eu to dando um exemplo!

-Ta' nada, ta' me sacaneando como seu tivesse 2 anos e voce sempre faz isso pra me irritar.
-Eu heim, que reacao abrupta, parece mesmo uma criancinha de 2 anos.

Um silencio pairou no ar, tenso.
Ele sabia que o proximo ato seria decisivo:

-Se virasse de costas e ficasse indiferente eles ficariam de mal por mais ou menos uma semana.

-Se ficasse indiferente mas seu corpo buscasse o dela com toques aqui e ali, a briga duraria no maximo 2 dias.

-Se desse um beijo de boa noite dizendo que a amava mesmo com as briguinhas e chegasse perto do corpo dela pra fazer conchinha, ai' poderiam ate' fazer amor em questao de minutos.

A vida de casal tem nuancias impressionantes.

Decidiu dar um beijo mas foi surpreendido!

Ela, mais rapida, virou de costas num ato seco, totalmente indiferente.

A semana, ia ser dura.

Filhos

O telefone tocava pela 4 vez.

Ela saiu do banheiro as pressas pois a secretaria eletronica estava prestes a atender.

-Alo ?
-E' a bonitona do bairro ?

-Meu filho ! Que surpresa !
-To ligando rapidinho pra dizer oi e saber como voce esta' ?

-Saindo do banheiro e sem muitas novidades, quero dizer, na correria de sempre.
-E voce, como vai na faculdade ?
-Legal, sem maiores problemas... pera Carol, eu falo, olha, a Carol ta' mandando um beijo.

-Manda outro para ela. Voce ta' cuidando direito dela?
-Mae, eu amo a Carol.

A frase ecoou em seu coracao. Desde pequeno ensinara o menino a escutar o coracao. Seu filho nao cometeria seu erro.

A coisa era tao seria que ate' estetoscopio ela tinha em casa. Quando achava que ele andava muito racional, distante, ela pegava o estetoscopio e ia escutar o coracao dele. A cena virou folclorica entre os dois. Algumas vezes riram fazendo isso. Outras brigaram.

E o filho, agora, dizendo com tanta certeza o que sentia lhe dava o prazer da missao cumprida.

Um apice da maternidade.

Ela sorriu nao conseguindo evitar a frase orgulhosa:

-Te amo por voce saber que ama a Carol.
-Mae, voce me faz rir.

-Como esta' a vida em Zurich, a faculdade, me conta ?
-Fria e cheio de gente tatuada em volta.

-E voce, ja' fez a sua ?
-Ja'.

-Jura ?
-Verdade. Tatuei grande no peito: adoro minha mae!

-Voce continua o mesmo bufao ne'?
-Bonitona, tenho que ir. O Gaspar ta' ai' ?

-Nao, ele saiu cedo hoje.
-Deixa um abraco e diz que meu time ganhou do dele.

-Ta bom.
-Te amo.

-Se cuida.
-Tchau.

Por um momento ela esqueceu a correria do dia e sentou no sofa.

Por um momento 21 anos passaram por seus olhos.

Sua vida nunca mais foi a mesma depois dele.

Por ele morreria.

Seu grande amor.

Os Homens

Ela gritou.

Jamais alguem havia lhe dito isso face a face, com tamanha verdade.

Um odio seco, interno, maligno.
Ateh hoje o som lhe vinha a cabeca como um eco, uma cicatriz cerebral.

-Do nada voce vem pra mim e diz que nao me ama mais ? Sem me dar um aviso ? Nem um sinal de que as coisas nao estavam bem ?

Ela tinha razao.
E odio.

-Eu sei. Nao tem explicacao. Ele falou num tom pequeno, fragil.

Quase inaudivel continuou:
-Fui fraco. Me perdoa?

-Perdoar ? Voce esta' me abandonando e ainda pedindo que eu te perdoe? Que entenda seu lado ? Nunca mais ! Ouviu, nunca mais !

Num gesto irracional ela arrancou o telefone da parede. A tensao chegava ao maximo. Andou de um lado para outro furiosa, quando, finalmente, jorrou todo seu odio no olhar.

Ele, atonito, abaixou mais a cabeca. Foram 10 segundos que duravam ateh hoje.

Como ele nao reagia, ela entrou para o quarto batendo a porta com violencia. A chave que estava na fechadura voou com o impacto.

Algumas mulheres aprendem a dominar a raiva diferentemente dos homens: Homens partem para briga, esmurram.

Mulheres fervem.

O som da batida na porta ainda ecoava em seus ouvidos quando ele pressentiu o momento: era agora ou nunca, tinha que sair e nao voltar mais, abandonar tudo.

Ela era mais forte, sempre foi.

Quando foi pegar as chaves sobre a mesa viu as fotos do ultimo ano.

-Nao tenho mais lugar para trabalhar aqui, ele reclamava.
-Mas eu nao sei viver sem diariamente ver os porta-retratos e voce sabe muito bem a razao, ela o persuadia.

Haviam se conhecido por causa de uma fotografia.

Foi assim.

Ele viu a foto dela na casa de uma amiga. Em 3 outras oportunidades pediu para ver o mesmo album e comentou que estava visualmente apaixonado pela mulher daquela foto - e apontava com o dedo no album.

-Quer a foto pra voce ? perguntou a amiga.
-Claro, ele euforicamente respondeu. A etica de tal atitude nem lhe passou pela cabeca.

Alguns dias passaram e a amiga finalmente comentou com ela sobre o acontecido.

Ela odiou.

Argumentou que em hipotese alguma se sentia confortavel com a situacao.
Um homem tendo sua foto pessoal sem ela ter aprovado?

A amiga ofereceu uma solucao:
-Quer uma foto dele ?

Ela fez um silencio pensativo.
-E' obvio que nao. Sua etica falava alto.

-Mas ele e' interessante, insistiu a amiga.
-N a o.

No outro dia a amiga deixou em sua porta um envelope com a palavra "NAO" escrita no destinatario.
Foi impossivel nao abrir.

Um ruido vindo do quarto trouxe ele de volta para sala. Um tremor no peito fez o cerebro gritar ao resto do corpo:

-Ela esta' voltando!

Rapidamente ele pegou as chaves, o porta-retrato e saiu pelo corredor aos trancos.

Frente a raiva,
homens esmurram.

Ou fogem.

Eu te amo


-Eu te amo.

A frase saiu sem passar pelo cerebro, diretamente do peito para a voz. Tao intenso que ele se surpreendeu. O amor possui esse tipo de verdade que ultrapassa o cerebro.

De seus olhos jorrava energia que chegava aos olhos dela e retornava mais intensa. As cabecas estavam perto uma da outra, encostadas na madeira. A posicao, tao estranha. O amor, tao certo.

Os dois viram a igreja cheia e decidiram entrar, chamados pela musica.

-Vou rezar, preciso agradecer por ter encontrado voce.
Ele se ajoelhou e foi seguido por ela.

Ao acabar a reza colocou a cabeca de lado, encostando no suporte de madeira onde estavam os cotovelos. Ela, que terminou a reza depois, fez o mesmo.

Ficaram ali, com as cabecas na madeira, de joelhos, olhando um para o outro, embalados pela musica sacra, centimetros distantes.

Ele teve vontade de beija-la. Ela entendeu. Sua mao tocou a cintura dela onde descobriu um pedacinho de pele, nu, exposto pela posicao. Uma reacao quimica de prazer invadiu seu corpo e a boca encheu d'agua.

O beijo foi intenso, quase sem movimento. Ela, devagar, bebeu tudo que havia em sua boca.

As pessoas em volta levantaram. Sentaram. Tornaram a levantar. Eles ali, olho dentro do olho.

-Foi o momento mais romantico da minha vida. Tres anos depois ela confessou.

Ele nao sabia o que responder. Nunca tinha analisado a frase desse ponto de vista e ficou calado.

-Naquele momento, eu sabia que voce era o amor da minha vida.

Nada saia da boca dele mas a tristeza era de ambos.

Olhou o relogio na parede, havia perdido nocao do tempo durante a discussao? 2 horas ? 4 ? O amor quando acaba deixa o tempo vazio.

Existiu na relacao um momento, meses atras, que seu coracao perdeu o comando. Nao entendendo bem o porque, delegou o relacionamento para o cerebro. No comeco, o cerebro manteve a chama acesa, buscando forca na memoria, na historia e na razao. Mas o tempo trouxe incertezas. As incertezas viraram vazio.

Bateu a porta e saiu sem chorar. Por experiencia sabia que os proximos anos seriam dificies tendo que se adaptar novamente a vida sem ela.

A estoria se repetia: o fim de um de amor lhe traria duas fases distintas: A primeira onde arranjava namoradas que nao duravam muito tempo.
O coracao, bloqueado.

Passava um tempo assim ate' que vinha a segunda fase marcarda por um periodo sozinho que inevitavelmente culminava em um novo amor.

A vida e seus ciclos, pensou. Uma luz acendeu no lobulo frontal. Descobria uma verdade pessoal que usaria para sempre pois a dificuldade em entender os ciclos residia no fato de que os ciclos levam tempo. Parecia obvio mas nao era.

Talvez um dia serei capaz de descobri-los ou monitora-los desde a primeira vez, pensou, agora que o primeiro passo havia sido dado: Sabia que os ciclos existiam e eram dificies de detectar.

Locomotiva

O trem deixava St. Gallen as 5:44 da manha. Era inicio do mes de maio e o ceu limpo indicava dia azul pela frente. Seu costume de nao usar relogio lhe dava uma sensibilidade especial com o tempo mas, situacoes precisas como essa, causavam ansiedade. Os trens na Suica partiam exatamente no horario e pressentir 5:44 da madrugada nao era nada facil sem relogio.

A ansiedade, apesar do preco pago pelo estomago, fez ele chegar em seguranca a estacao 15 minutos antes da saida do trem.

Jah em movimento, deixou-se levar pela paisagem aberta pela janela.

-Aqui ateh o sujo eh limpo.

O cerebro, provavelmente provocado pelos acidos estomacais, jorrava filosofia barata pela manha.

Aparentemente sem sentido, a frase resumia algo que sentira ali: tudo era visualmente limpo, ordenado e bonito na Suica.

Ateh o sujo.

Tentou encontrar uma explicacao cultural para o absurdo da frase. Acreditava que essas ideias lancadas pelo subconciente deveriam ser mastigadas.

Depois de algumas alternativas escolheu a que parecia mais absurda: o mar.
Sua falta deixara a Suica sem contato com um dos grupos mais radicais da vida humana. Afinal, os marinheiros foram tatuados muito antes dos punks. Jesus buscou nos pescadores os revolucionarios para segui-lo e o indio nao sobreviveu a ira dos navegadores.

Alguem pra se atirar a imensidao do oceano tem parafuso a menos.
Tal proeza necessita um conhecimento alem da plantacao, tao segura, cercada.

Exatamente, saber quando se deve plantar o alface nao serve, eh cafe pequeno.

O intestino tem que saber de algo mais antigo, do tempo que voce era ostra, sapo, peixe. Tem que conhecer das tempestades e ter na morte sua amiga.

Radicais, loucos e envelhecidos de sal. Homens do mar e suas mulheres que passam a vida lidando com a possibilidade de ver seu amor morrer. Diariamente.

Faltava isso na Suica, o sal do mar, o mal cheiro dos portos, a loucura da fragilidade humana frente os poderes da natureza.

Para compensar, tornaram tudo belo, campestre, limpo. Cada cantinho como um ato de prazer visual romantico, seguro. Nao e' atoa que os bancos reinavam aqui.

Lembrou-se de uma historia popular ouvida na Espanha que brincava com a falta de estudo de alguns toureiros.
Ao ser perguntado como tinha sido a tourada, o toureiro famoso, respondeu:
-En dos palabras: im - pressionante !

Pois bem, a Suica em duas palavras era:
-im - pecavel.

Sorriu com os pensamentos. O pecado era um duplo sentido interessante para o pensamento matinal.

Se acomodou melhor na poltrona, chegaria a Paris em cinco horas e resolveu dormir um pouco.

Utero

O elevador parou no quarto andar.
Ele pode ver duas portas ao fundo do corredor.
Saiu e sentiu o elevador fechar em suas costas tornando tudo insuportavelmente escuro.

-Aonde estaria o interruptor?
A escuridao era abissal.

-Franziu os olhos. Nada. Lembrou que havia um vaso e preferiu nao se mover.
Chamou o elevador. Sem ele seria impossivel achar o interruptor.

Enquanto esperava, recordou sua teoria profetizada em um bar com amigos:
"O indice de stress pode ser medido pela ansiedade com que esperamos o elevador. Tem gente que entristesse, tem gente que aperta o botao de novo, tem gente que nao para quieto."

20 segundos depois e nada do puto do elevador. O tempo, no escuro, parecia alargado e perigoso.
Tateando, sempre pensando no vaso, seguiu lentamente ate achar uma porta. Hesitou.
-Seria esse o 404 ?

Reflexo


Na adolescencia aprendeu a se afastar do espelho. No maximo uma olhada no cabelo, de esguio. Jamais olho no olho.

Sua fraca auto-estima rompia-lhe os vasos quando exposta.

Se por um instante contemplasse a verdade que o olho no olho transgride, uma armadura se formava, franzindo vincos, enrugando a fronte.

Mas agora nao havia jeito. O elevador tinha espelhos pelos quatro cantos. Ficou imovel, sozinho, exposto ao nu da face.

Ao primeiro sinal de desconforto, reagiu:
-Ainda sou bonito, pensou franzindo a testa.

Sua frase escondia um temor que provocou, vinda das profundezas do utero cerebral, uma pergunta inesperada:
-Seria a preocupacao com a beleza um problema?

O golpe ficaria mais forte, como se o cerebro, cansado por anos, revoltasse buscando o consciente.
-Porque reparo minha beleza em primeiro lugar?

Uma emocao invadiu os olhos, antecipando a derradeira pergunta:
-Sou tao preocupado assim com as aparencias ?

O inimigo cravava a espada em seu peito chegando ao ponto doloroso.
Se nao reagisse, morreria ali, sangrando. Seria hora de chorar pedindo perdao a si mesmo? A ideia de uma vida de aparencias era inaceitavel, mediocre, insuportavel. Logo ele, nao poderia ser.

-Mas beleza pode ser um sinal de saude.
A frase cuspida sinapse abaixo mostrava uma saida. A face reagiu com um leve sorriso de lado, pressentindo uma retirada triunfal.

-Claro, nao sao as aparencias que me afligem e sim uma preocupacao com a saude, e isso explica minha preocupacao com a beleza!
Sua habilidade em construir tiradas de efeito era inabalavel e com esse ultimo pensamento finalizou a desculpa salvadora.

Pelos quatro cantos, apesar da aparente derrota, o espelho sorria.
Sua sabedoria milenar indicava que havia ganho outra vez.
A raiz do medo mantinha-se insconsciente.
Dessa vez, por pouco.


quando dei por mim

estava tudo como antes

você na terra escavando estrelas

e eu nas nuvens garimpando diamantes

jaime brasil

Originalidade

Lembranças da Festa do Divino em Pirenópolis
(fotos tiradas durante a folia que percorre as fazendas da região em busca de oferendas).








nada acontece


com a aranha


que não tece


Jaime Brasil

Dia cerrado

Inicio de tarde aqui nos Pireneus.
O calor de agosto parece atrasado, aflorando quase setembro.

Época de solo seco e copa de árvore cheia de flores.
Quem entende isso aqui ?

Embaixo puro cinza e marrom.
No alto, amarelos, vermelhos e azuis.

Sem água,
se vao as folhas.

Será que isso explica o Ipê ?

O cerrado fica mais torto depois do meio.
Essa frase foi colhida no matagal da fala e nao pode ser provada cientificamente.

Opereta

Pirenópolis, cidade cravada no meio do Brasil tem um grupo de teatro atuante.

Quase inimaginável para uma cidade de 10 mil habitantes.
Mas aqui é diferente.
A história mostra.

Segue um breve relato visual da opereta "Anfitrião e Alcmena",
produzida, dirigida e atuada no sopé dos Pireneus...



ps. tirei mais de 200 fotos, se alguém se interessar envio via email- é só me contactar no ricardo@duoba.com

O nascimento do nome

Sai pra comprar um pedaço de trem.
"Trem" em Goias pode ser qualquer coisa.
Nesse caso especifico era um trenzinho de metro.

Entrei no armarinho "Anjo de Papel".
Vale a referencia, pra quem conhece os Pireneus.

Escolhi.
Ao perguntar sobre o preço, recebi um engano magico (*) como resposta:

-"O metro custa noventa centimetros..."

Ahnnnn ?? Mexi os miolos.
Ta' querendo me enganar? - pensei.
O rapaz percebeu.
E sorriu.

O preço era 90 centavos.
Mas a frase ecoou.
Em sua logica, existe um desconto. Nao perceptivel ao imediato.

Voce toparia levar um metro que custa so' noventa centimetros ??


(*) possiveis definicoes para "engano magico" :
.5 segundos de anti-dominio cerebral
.momento pra falar com deus
.dissonante que ata melodias distintas
.portal pra dimensao pirenopolina

CPI Brasil

E' o maximo.
Assista.

Depois veja os noticiarios.

Saira' com a certeza, os noticiarios nao
assistiram a mesma CPI que voce.

Para um povo habituado a novela,
CPI e' fichinha. E conquista.
A verdade nela se contem.

Duda e' digno de choro das 8.
Lamas e' digno de riso das 7.
Delubio e' vale a pena ver de novo.

E' bater o olho e ver quem mente.
A CPI, se assistida na integra,
e' solucao para o Brasil.

Uma das boas.

Soltas

.
1.Musica traz satisfacao de artesao

2.Alcool tem a ver com lingua

3.O Acordeon foi importante pro meu quintal

4.O tal do mesmo me engana direto

(a 4 foi coletada por Bruno Accioly no palavrero ou
tambem conhecido como matagal da fala

Elo perdido

.
Sem perceber, soltou a frase
-O elo perdido e' um segredo.

Todos se olharam.
Puxa. O elo. Que segredo !

Nisso,
preparando-se para partir
Maruvio pegou o enxo'
e soltou a
l a n b u r a :

-"Se eu soubesse do paradeiro,
esse tal de elo nunca mais se perdia..."

Dificil quando criança

Era desatar no'.


Peculiaridades do no' :

.ente
que nasce
do descaso

.desatoa depois de
tempo, com
exercicios de perdao.

.diz-se
em regioes do
central, pura goianice

.em musica
e' quando
o verbo embebeda

--

Minha sincera homenage a Manoel de Barros. Vida longa ao poeta.

Fome Zero

Na cidade onde comprei minha casinha, Pirenopolis, tem um grupo de amigos que se reune as segundas.

Passei a fazer parte das reunioes. Um deleite de amizade, brincadeiras e muito boa comida.

Chamamos a reuniao de "Fome Zero".

Como o grupo e' grande, vira e mexe conheco alguem novo.
Dessa vez foi o Roque.

Um senhor imponente, de olhar tristonho, chapeu e voz grave.

O grupo levanta alguns assuntos e a discussao fica animada.

Nos entremeios, comida da melhor qualidade regada com cachaca boa.

Ao final da noite, pra la' das 11, ofereci carona aos amigos restantes. O Roque aceitou.

Pegamos a estrada de volta a cidade pois o Fome Zero acontece no sitio do Fernando que fica uns 10 minutos do centro.

Ja' no carro, falamos do violao e das madeiras nobres brasileiras. O Roque mencionou que o vinhatico, uma arvore disponivel no cerrado, talvez pudesse ser usado como alternativa ao carvalho.

Ao ouvir seus conhecimentos sobre as arvores do cerrado fiquei curioso e perguntei sobre o que ele fazia.

-Eu ensino a humanidade a largar da linha reta.

A resposta deu no' na minha cabeca. E dessa vez nao era a cachacinha de alambique. Quase parei o carro. Como ?

Aos poucos ele foi me explicando. O Roque faz moveis rusticos tendo como principio respeitar os contornos naturais da madeira. Dos paus tortos ele faz mesas, cadeiras e uma gama de moveis rusticos dignos de visita.

Comecou essa arte anos atras, sendo um dos criadores do que hoje virou comum no planalto central.

Mas so' vendo suas obras pra entender que no caso dele, o comum ficou distante. Sao obras de arte.

Roque.
Firme no leme
que a reta e' torta.

Pra quem vai ter filho

Ontem fui ao chopp com Lilian e Pedro. O casal tah gravido.

Entre estorias e peixe frito, ouvi da Lilian que mesmo apos o teste da farmacia e o teste laboratorial ela ainda nao acreditava que estava gravida.

Em sua serenidade de beleza incontestavel, o Pedro comentava:
-Tah esperando o que pra acreditar ?

Eu ouvia fascinado. A duvida da Lilian nao era sobre a veracidade dos testes. Era duvida de quem tem lucidez, ou pelo menos tenta estar lucido o maior tempo possivel.

Uma sinceridade de nao entender a coisa por completo, afinal, nao tinha barriga, nao havia grandes mudanças naquele primeiro mes de gravidez. Como assim estou gravida ? Eu sou a mesma de ontem. Serah ?

Achei bonito ela nao representar o modelo "estou gravida".

Pois bem, ontem no chopp, 2 meses haviam se passado. Minha amiga jah acreditava na gravidez, nao porque um teste disse mas sim porque o peito mudou e a barriga deu uma arrredondadinha. Algumas colicas. Enfim, sentia-se diferente.

Pra completar, sonhou que era menina.

Ao comentar com a Mae, teve essa joia como resposta:
-Minha filha, quando a gente sonha com menina eh que vai ser menino!

Aaannnh ????? Vem cah, de que planeta voces, mulheres, vem ?

Para nao envelhecer

Acabara de almoçar com o velho amigo Antonio na Barra da Tijuca e precisava de um mergulho. Ele me deixou em Copacabana. Caminhei um pouco ateh que vi esse ser branco de roupa preta.

Roupa na praia ? E preta ?

Dela mal vi o rosto.

Sentada na areia perto do mar olhava mapas e um livro "Traveling South America".

Gentilmente pedi que vigiasse minhas coisas enquanto ia ao mergulho. O Ingles dela nao era americano.

Mergulhei sem pressa.

No retorno, puxei conversa, agradeci e comecamos a bater papo. Ela parecia contente de achar alguem pra falar ingles.

Chegou uma outra amiga. Amorenada. O papo ficou animado. Veronika e Corina eram Suiças. Tiraram 5 meses pra viajar juntas. Nao se conheciam antes, foi um acordo via internet...

Esse detalhe foi o bastante pra estender a conversa. Fiquei curioso como alguem poderia escolher um parceiro de viagem daquela forma, via internet. Mas depois pensei, ja' tive namorada via internet... ta' valendo.

Aproveitando o embalo da conversa, mencionei o show do Rappa no circo voador. Fiquei sabendo desse show pelo amigo que me hospedava no rio, Ricardo Mico. Ele planejava ir ao circo com a namorada.

Convidei as Suiças e elas toparam. Marcamos um local de encontro e elas la' estavam na hora marcada.

O show do rappa eu entendi. Gostei de algumas coisas mas depois de 4 musicas nao precisava mais do volume tao proximo aos meus ouvidos. Coisas da idade. Serah ? Gritando, disse para as gringas que iria sair e ficar mais afastado.

Veronika me acompanhou. Paramos debaixo de uma das poucas arvores do circo voador e ali, ouvindo o rappa ao fundo escutei dessa menina de 21 anos sua vida na Suiça e das expectativas da viagem pela america do sul.

Ao final, andamos ate´ o hotel delas, que fica em uma regiao do baixo meritricio no Rio de Janeiro, bem proximo a Candelaria. Elas escolheram esse hotel baseadas em um taxista.

Bem baratinho e ... super barra pesada.

Corina subiu as escadarias da casa velha dizendo que ia dormir. Veronika disse que iria mais tarde. Ficamos ali, olhando um para outro, conversando mais um pouco.

Nutriamos uma pureza bonita, um sentimento daqueles de inicio de namoro, de uma amizade que estava por aflorar, romanticamente adolescente.

Ouvimos umas vozes. Um grupo de 8 homens e mais de 10 mulheres dobrou a esquina em direcao ao hotel. Alguns pararam bem na porta, outros ficaram na rua. O detalhe foi que eu e Veronica ficamos no centro deles. Rodeados pelo grupo que decidia onde passar a noite. Conversavam alto, brincando e zombando, meio embebedados. Os forasteiros e suas prostitutas.
Veronika e eu ilhamos no mar que tao corriqueiramente acontece naquela rua.
Foram alguns minutos, calados, lutando pra preservar a pureza que sentiamos em meio de força sonora, visual e energetica tao diferente.

Se talvez conseguissemos ver as vibracoes da vida atraves das cores, um observador desse momento sentiria claramente dois circulos de cores diferentes, taoisticos.

2 circulos e um momento. Cravado. Na memoria.

O grupo se foi. Ficamos ali mais um pouco, vitoriosos na preservacao de nossa aura.

Nos despedimos com a promessa de nos encontramos de novo.
O futuro fica cheio de esperanca quando essas promessas sao feitas.

Estrategia de Venda

Curtia a praia de Copacabana lendo minha recente aquisicao: Tabula Rasa.

Um livro pesado, lento, falando das ultimas descobertas para uma melhor analise do comportamento humano.

Pois eh, os caras tao tentando explicar o inexplicavel.

Deveria se chamar "Tabula Pesada".

Mas uma palavra poderia descrever o livro ateh onde fui:
Fascinante.

Enfim, cheguei a praia com boneh, sunga, livro e 20 reais. Aluguei cadeira e guarda sol, afinal, minha pele branca lesma nao aguentaria aquele sol escaldante do Rio de Janeiro.

Pra quem nao conhece, na praia de copacabana se vende tudo.

Ateh mao.

Isso mesmo, tu compra o bronzeador e alguem passa o oleo em ti.

Tem biju, mate, biscoito globo, bronzeador, camiseta do Brasil, sunga, canga, boneh, pipa, bijuteria, sanduiche natural, oculos...

Sabe o silencio?

Fugiu de lah faz anos.

Na praia voce estah sempre escutando um apelo de venda.

As vezes direto como "Olha agua, Olha agua..".

As vezes elaborado como "Camarao fresco, novo, recem pescado, tah gostoso, salgadinho como o mar... Camarao fresco, novo...."

No meio dessa epopeia sonora, busquei meu livro.

O inicio da leitura foi dificil mas logo a cabeça começou a divagar e criar perguntas, pensamentos.

Enfim, falso silencio.

Depois de um tempo nessa ilusao, ignorando o espaço a minha volta, sinto que algo me incomoda. Estranho.

Sensacao de que tem alguem olhando.

Na ilha mental da fantasia, ainda entorpecido pelas ideias, olhei pra direita. Como um soco, recebo essa frase que me pega totalmente desprevenido:

-Tudo que eh gostoso, eh maravilhoooooso !

Parado, olhando pra mim, um vendedor de empadinhas solta essa inusitada frase. Tatua meu subconsciente. Desmonta.

Sopetao que embaralhou meus sentidos.

Minha cara arredondou. O sorriso foi inevitavel.

-Me dah uma empadinha entao !

Pago com a sensacao de que ganhei uma estoria. Olho com admiracao esse senhor de seus 50 anos, vendedor profissional de praia.

Nao gasta voz, nem anda muito. Saudavel, no meio daquele sol escaldante, dava show de venda.

Na empadinha, quentinha, coloquei meu preparado alucinogeno.

Dai pra frente, o livro ficou levinho...

Tsunami

Sendo brasileiro, prepare-se:

Voce estah vivendo em um pais evangelico.

Isso mesmo.

Seu pais eh evangelico.

Sabe a frase "comendo pelas beiras".
Pois eh. Nao tenho estatisticas, mas vejo.
Parando pra ver, confirma.

Duas historinhas, dentre muitas:

Saindo de uma gafieira onde deixei pra tras Cibele, Sheila e Carlinhos de Jesus, pensei em revisitar a Candelaria. Estava perto, uns 4 blocos de caminhada.

Meia noite. Regiao barra pesada.

A vontade de relembrar um antigo lugar de trabalho venceu a hesitacao. Trabalhei a mais de 15 anos atras no Banco Brasileiro e Iraquiano, que ficava de frente pra Igreja da Candelaria.

O Banco nao existia mais.

Mas havia um movimento incomum pro horario e notei ao redor da igreja varios grupos, cada um em circulo. Fui averiguar.

Eram evangelicos fazendo oracoes pros meninos mortos no massacre da Candelaria.

Exemplos para renovacao da fe' ?
Ali estava um.

Eram pelo menos 5 minivans, cada uma com um grupo, cada grupo de uma igreja diferente e pelo jeito, cada grupo veio por conta propria.

Me aproximei.

Eles conversavam sobre a vida e coisas do dia a dia. Riam e brincavam. Ao notarem minha presença pergutaram educadamente se eu queria participar da oracao.

Respondi que nao, talvez na proxima.

Uma moça bem nova nao entendeu e fez de novo a mesma pergunta. Nao precisei responder pois um dos mais velhos interferiu e respondeu por mim, dizendo que eu nao iria participar. Das 15 pessoas que estavam nesse grupo, varias fizeram cara de nao entender minha recusa.

Deram as maos e iniciaram a reza.

Antes do final, caminhei em direcao ao outro grupo, uns 100 metros do primeiro. A historia parecia se repetir. Conversas. Convite. Reza.

Eram marola. Viraram onda. Serao Tsunami.

E Tsunami me leva pra proxima historia:

---

Bairro do Bonfim, Pirenopolis.
Convidei meu primo para ver esse bairro pobre de minha cidade.

Era um belo fim de tarde e havia um bom numero de pessoas na rua. Paramos em uma das igrejas. O pastor chamou nossa atencao.

Na verdade paramos porque ele era bom. Otimo de conversa. Excelente nos gestos e expressoes faciais.

A igreja estava semi lotada.

O pastor falava de Jo'.

Falou bem falado, para quem eh da igreja. As pessoas respondiam. Repleto de exemplos de moral. Riu, orou e exorcisou.

Pediu mais oracoes.

Mas em um dado momento do seu discurso inflamado, disse:

-"Deus manda coisas boas e ruins. Os Tsunamis por exemplo que acaba de acontecer nao eh maldade de Deus, eh uma prova para renovarmos nossa feh. Mas Deus manda coisas boas tambem, olha que beleza esses transgenicos ! Eles vieram pra acabar com a fome do mundo"

Eu e o Bruno nos olhamos assustados.
Pois eh. Eles estao falando de coisas que voce nao imagina.

Tenho cah pra mim que andam falando ateh com a Monsanto...

Know how

Entrei na livraria Siciliano, edificio central, avenida Rio Branco, centrao do Rio de Janeiro.

Meses atras, lendo a www.salon.com topei com nota sobre um livro que me chamou atencao. A critica falava bem. Lembro de pensar em compra-lo mas nao cheguei as vias de fato.

Comprar via correio em outro país pode ser uma experiencia bastante frustrante.

Enfim, estou na Siciliano e me interesso por um livro. Dei uma olhada na orelha e fiquei mais curioso: "Tabula Rasa" era o titulo. Perguntei se havia algum lugar onde pudesse analisar o livro com calma e para boa surpresa, mesas e cadeiras disponiveis no andar de cima.

Subi. A mobilia era simples, nada muito confortavel mas pratico.

Me bastava.

Ao ler a introducao ficou claro que havia pego o mesmo livro visto alguns meses antes.

Coincidencias como essa sao:

-Caras.

Sabia que iria comprar o livro. Um calhamaço de 600 paginas. Nunca consegui terminar livro tao grande, pensei esquivando de olhar o preço.... Mas a tal da coincidencia.... A Siciliano me pegou.

Nisso passa uma mulher de uns 25 anos olhando uns livros, sem realmente olhar.
Tocou algo na bolsa.

Era o celular:
-Oi amor...(pausa) Jah...(pausa) Foi legal, respondi tudo...

Suas respostas eram altas.

Daria pra ouvir no primeiro andar.

Continuando, ela solta essa frase curiosa:

-Amorzinho, annh, nao sei, o teste foi dificil e o instrutor me afirmou que "o Know How de mulher eh 23" .....

A frase reverberou: "o Know How de mulher eh 23... o Know How de mulher eh 23...." ???

Pensei comigo, ainda ouvindo o eco da frase:

-Sei nao,
serah que o Know How dela dah isso tudo ?

Ah, sim, comprei o livro...

Frase de efeito

Nao diga que vai se apaixonar por alguem.

Da proxima vez simplifique:

Se apaixone antes.

Revolver

Um arsenal de balas

Faço suas

minhas palavras

Chamando alguem de Boiola

Ouvi de dois camelôs na Atlantica, um implicando com o outro:
-Voce eh muito "levezi"
-Sai dessa.
-E tu ? Tu eh muito "lepoassi"

E riam.

Parei pra perguntar o que era.

A Atlantica virou o ponto de turismo sexual. Muitos italianos, franceses, holandeses.... A bicharada francesa parece ser a mais extrovertida e ficam repetindo algumas palavras que os camelôs pegam, abrasileram e se divertem.

-E aquele ali, tem cara de que ?
-Sabaim ! retrucou o parceiro com sotaque afrancesado.

E se o cara perceber a sacanagem e engrossar ? perguntei pro suposto "levezi".
-Aiiiiiiii mermao, tu chuta que eh macumba !!!

Vendiam na rua e se divertiam no possivel, amigos de gramatica e provavelmente de morro.
Inventores dos proximos jargoes da Globo.
O Rio recria.

Traduzindo camelôs

Vi camelôs tentando vender para gringos.
Tem lugar que isso acontece.

Pensei que poderia ajudar, coisa rara.

Escrevi na caderneta valores e o jeito de le-los em portugues.

50,00 -> fifiti

20,00 -> tuenti ...

Entreguei pra moça que vendia biquinis. Ela gostou. Chamou a vizinha de venda e mostrou o papel. A vizinha pediu pra traduzir as camisetas.
Sera' que turista nao compra pois tem medo de dizeres improprios?

Traduzi a primeira.

A camiseta dizia:
Nao quero parar de beijar !

imagina se gringa feia compra essa ?
e se ela for bonita?
inverte o local,
e se estiver usando a camisa na cidade dela ?
quem sabe em uma outra viagem de turismo para .... Portugal ??
imagina se ela gostar dos dizeres???
imagina se ela discordar -MAS usa por que a camisa tem valor sentimental????

Agora,
imagina
se depois disso
voce finalmente ENTENDE
a importancia da diversidade de opinioes!

Arabe

Vi um homem vestido de Bin Laden na praia de Copacabana.
Andava com uma polaroid.
Cobrava 20 reais pela foto.

Arabe na Atlantica sai bem na foto.

E vive sem terror.

Onde tudo se acha, o Rio.

Foi de manha, escrevendo email para Ingrid.

Queria falar alguma coisa do Rio de Janeiro.

Parei. Tao dificil.
Pensei mais.
Piorou.

A mulher da faxina aonde estou hospedado no Rio de Janeiro desligou o aspirador de po'. Estava de joelhos trabalhando no carpete fazia tempo. Boa carioca, puxou conversa:

-Barulhento esse aspirador neh ?

Respondi que sim.

A sala ficou silenciosa. Procurei em vao alguma pergunta para continuar o papo enquanto ela retirava o aspirador. Quando desisti do complicado, comentei:

-Estou escrevendo para uma amiga que me perguntou sobre o Rio... nao sei o que falar...

O final de frase saiu carregado de "me ajuda" nas entrelinhas.

Ela percebeu, andou um pouco e mexeu no aspirador.

Rio sozinha.

Finalmente parou na minha direcao e disparou:

-Nao sei porque todo mundo quer saber do Rio. O Rio nao tem nada!

Sua frase direta fez cambalear as ideias. Como assim o Rio nao tem nada ?

Nao esperava.

Serah que nesse lugar, famoso por ter tudo, o "Nada" tambem tem ????

Acho que vou procurar menos.

Quem sabe nadinha aparece!

Atlantica

Andava no domingo depois das 10 pela praia de Copacabana quando brotou um samba na cabeca. Pensei em perde-lo depois de passado o momento.

O medo, esse fator tao motivador me decidiu a comprar lapis e papel. De pronto.

Parei e perguntei por algum supermercado nas redondezas.
-Na proxima esquina, respondeu o ambulante.

No caminho, uma senhora de mais de 60 anos, cabelinhos brancos, baixa e cara redonda interrompeu meu passo pra pedir dinheiro, coisa frequente na zona sul carioca.

A gente passa por tantos que acostuma a ignora-los. Mas talvez por estado de criacao, aberto, parei.

-A senhora lembra de algum samba antigo ?

Ela fez cara de que nao entendeu bem a pergunta mas farejou boa chance de ganhar um trocado. Provavelmente o motivo de sua dispersao por alguns segundos.

Ao retornar, sorriu, normalizou e olhou longe, dizendo nao lembrar pois ficava envergonhada de mostrar a voz.

-Quero ouvir um samba antigo, canta pra mim ? Reforcei a ideia com "Quero".

Quero eh poder.

Respondeu que quando crianca estudava em escola soh de meninas. Todas riam quando cantava - Ai, ai, ai ai, tah chegando a hora...

- Porque ? Perguntei curioso pois jah ouvira essa marchinha varias vezes pela boca de minha mae.

-Porque eu cantava: Aiii, ai, ai ai, ai ai aiiiiiiii tah chegando a hora... Repetiu o ai ai ai pra que eu entendesse, rindo da lembranca.

Alegre enfim.

Em um dia bem longe de hoje acelerou a musica pra colocar mais enfase em alguns "ais". Pelo jeito era algo realmente novo pois as amigas riram. Ela era "doida" me contou.

Serah que pouco se brincava antigamente de alterar os versos - acelerando ou extendendo pra incorporar novas tendencias ? Ou seria meu proprio estado de criacao conectando com um momento no qual alguem criava algo tambem ?

Entreguei-lhe cinco reais. Nao sei se eh muito. Somei seus anos, sua simpatia e sua aparicao no meio do meu samba.

O ato teve bencao grande pois pude ouvir seu "deus o abencoe e obrigado" varias vezes, ateh chegar no fim da rua onde estava o supermercado Extra.

Super. Mercado.
Setor de materiais escolares.
Lapis com borracha na ponta ?
Nem pensar.

O jeito foi a lapiseira.
O caderninho ? Foi facil.

Na prateleira ao lado havia um conjunto pronto e acabado: lapis, borracha, apontador e caneta. Tudo ajuntadinho. Otimo!

Pensei que seria uma alternativa ateh ver o preco.
-R$ 11,79.

Fiquei pasmo. Depois questionador. Cheguei no indignado.
R$ 11,45 ???
Nao seria muito caro?

Nao dah pra estudar. Quem diria compor samba.

O Extra seria contra a educacao? A pergunta me pareceu absurda. Talvez nao. Serah que cobrar consciencia dos que vendem tambem eh um dever?

Fui ao caixa e perguntei do gerente. Nao havia. Mas tinha o subcontravice.

Falei do suposto absurdo calmamente. Como manda minha pessoa.

O subcontravice me devolveu resposta nao muito inteligente, perola triste e corrompida:
-O Extra eh mais caro mesmo.

Ufa. Que bom saber.

Enfim, voltei a rua com lapiseira e caderneta.

Escrevia os versinhos, poucos e cantava. Parecia contente.

Nessa aura criativa onde ia escrevendo as estrofes do novo samba, uma mulher provavelmente filmando minha alteracao, conscientemente parou do meu lado e interrompeu minha caminhada recitando uma poesia em alto e bom som.

Inesperado momento.

Sai do samba pra poesia sem parada no Estacio. Trem bala japones, que talvez ligue Goiania a Brasilia com escala nas ilhas caimans.

Enquanto ouvia suas rimas e me recuperava, olhei:

Ela parecia gravida de 4 meses, mas poderia ser barriga de vida mesmo.
Melhor nao perguntar. Nao era bonita nem feia. Roupa simples. Na cara nenhuma ruga, lisinha. Tinha mais de 30.

Quando acabou as rimas perguntei:
-Que bonito, de quem eh ?
Respondeu:
- Minha. Sou poeta, cantora e muitas vezes psicologa. Trabalho aqui na Atlantica como moca de programa.

Assim mesmo. Na lata. Falado sem vergonha. Punhal pelas costas pra executar. Foi como levar tiro.

Pipocava o fato de que a mulher tinha educacao, visto sua poesia de palavras corretamente pronunciadas e com aparente consciencia. Como seria possivel ser: primeiro "moca" coisa que ela nao era, e depois de "programa"? - coisa que jah fui. Por profissao.

-Como assim moca de programa ? perplexo exigi explicacoes.

Sua resposta, digna do samba que nascia, deu motivo pra escrever esse diario.
Uma resposta poetica pra minha pergunta cruel :

-Construi meus castelos de areia muito proximos do mar...

O Rio de Janeiro nao mudou nada.
Eu que acordei.

Samba Inacabado

Amor com bondade
Carinho sem perdao
Cafe com bobagem
Suas curvas no verao

Cantar sorrindo
nos seus olhos de satisfacao
o dia vem vindo
minhas rugas de preocupacao

Cafe e bondade
carinho de verao
amor com bobagem
tuas curvas, o perdao

Dinheiro

-Escrever no dinheiro pode ser forma de revolucao.
Esse pensamento me ocorreu recentemente.

A partir de hoje, pego o dinheiro e escrevo nele. Frases soltas. Propaganda. Auto promocao. Provocacao. Revoltas.

Achei um espaco de comunicacao acessivel, sem custo a nao ser tinta de caneta. Na midia mais usada no mundo: o dinheiro.

Se voce tem uma nota, exercite a criatividade mandando seu recado. Talvez alguem responda um dia.